Pela contribuição para o desenvolvimento da cultura e musicalidade da Bahia e do Brasil e pela defesa da democracia, foi condecorado com a Comenda 2 de Julho, em sessão especial, na manhã desta sexta-feira (10), o poeta José Carlos Capinan, considerado um dos grandes letristas da música brasileira, autor de obras como Soy Louco Por ti, América, em parceria com Gilberto Gil, e da vencedora do III Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, Ponteio, a qual divide com Edu Lobo.
A deputada Maria del Carmen (PT) e o deputado Marcelino Galo (PT), proponentes do evento, presidiram a cerimônia, que foi realizada no Auditório Jornalista Jorge Calmon e contou com a presença dos deputados Robinson Almeida (PT), Zé Raimundo (PT), da deputada federal Lídice da Mata (PSB), entre outras autoridades, artistas e amigos do homenageado.
Em seu discurso, Maria del Carmen relembrou a história de Capinan, nascido 19 de fevereiro de 1941, em Arraial das Pedras, distrito de Entre Rios, mas lembrou que ele foi registrado em Esplanada. Também publicitário, teatrólogo e médico, Capinan, conforme contou a deputada, atuou ainda como jornalista, gestor cultural e pensador da identidade brasileira.
“Sua escrita sempre trouxe a convicção de que a arte é também um ato político, uma forma de resistência e de afirmação da liberdade”, disse a parlamentar, que elencou alguns dos cargos importantes ocupados por Capinan em sua trajetória, como diretor da TV Educativa da Bahia (1985), secretário municipal de Cultura de Camaçari (1986) e secretário estadual da Cultura (de 1987 a 1989).
Del Carmen citou obras do poeta, como Inquisidor (1973) e a A Palavra Contra o Silêncio (1994), que, segundo ela, “revelam uma linguagem incisiva marcada pela ironia, pelo ritmo e pela capacidade de confrontar o leitor com questões sociais e políticas”.
A legisladora destacou ainda que Capinan também participou ativamente de debates sobre políticas públicas de cultura, defendendo a democratização do acesso às artes e a valorização das expressões populares. “Hoje, ao lembrarmos sua obra, reafirmamos o valor da poesia que se faz música, da canção que se torna documento histórico, da palavra que, em sua beleza, é capaz de transformar consciências”, declarou Maria del Carmen.
Com um discurso mais poético, intercalando músicas do homenageado, o deputado Marcelino Galo também rememorou a trajetória e a obra de Capinan, com livros como Bumba Meu Boi (1960), Estrela do Norte, Adeus (1981), Confissões de Narciso (1995), Uma Canção de Amor às Árvores Desesperadas (1996), Vinte Canções de Amor e um Poema Quase Desesperado (2014) e Cancioneiro Geral (2024), uma antologia poética organizada por Claudio Leal e Leonardo Gandolfi. Disse ainda que Capinan “é símbolo de resistência cultural e voz que atravessa gerações”.
Galo lembrou que Capinan é membro da Academia de Letras da Bahia e presidente da Associação de Amigos da Cultura Afro-brasileira (Amafro), e que já foi agraciado, em 2023, com Medalha do Mérito Cultural, da Câmara Municipal de Salvador e recebeu títulos de doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2024, e pelo Instituto Federal da Bahia (Ifba), este ano.
Segundo o deputado, Capinan honra o título concebido na Assembleia Legislativa da Bahia, pois é um reconhecimento à sua trajetória como poeta, compositor, intelectual, humanista, que dedicou a vida à arte e à luta por uma sociedade mais justa. “Somos loucos por ti, Capinam!”, exclamou o Marcelino Galo.
GRATIDÃO
Ao abrir seu discurso, Capinam disse que o Parlamento também tem em sua origem semântica o lugar da palavra, da fala, e afirmou, em meio a um sorriso descrente da plateia, que não tinha o dom da oratória, mas que a medalha da Comenda 2 de Julho o compelia a se pronunciar. “O instrumento principal do Parlamento, logicamente, é a palavra. Uma palavra diferenciada um pouco da palavra da poesia. Eu não tenho dom da oratória, repito, mas tenho o dom de ser grato àqueles que prestigiam e admiram a poesia, a música, a arte e fazem, como agora, essa homenagem ao poeta”, disse. Capinan agradeceu aos deputados proponentes da sessão especial, “que tiveram a ousadia de escolher o poeta popular para receber a sua condecoração máxima”, e disse que é do 2 de Julho que nasce o sentimento de soberania, tão defendida no país nos tempos atuais. “Somos uma nação soberana, garantida pela luta ampla popular do 2 de julho”. Por fim, ele disse que sua história era marcada por coisa coisas extraordinárias, a exemplo da vitória da canção Ponteio no Festival de 1967. “E aqui estou neste dia em que vivo mais uma coisa extraordinária, que é receber desta Casa a sua comenda mais alta”, concluiu.
Outro mestre da arte da Bahia, o compositor santamarense Roberto Mendes disse que Capinan, com sua poesia, era responsável pela carreira artística dele e de seu parceiro, o saudoso professor e poeta Jorge Portugal. “ Eu aprendi muito com Capinam essa coisa da paixão e da verdade de viver.
Costumo dizer que sou 3% de arte. No restante, eu sou cidadão. E eu tenho que ser cidadão 24 horas. Só cidadão. E Capinam é cidadão 24 horas”, constatou Roberto, tocando em seguida uma das parcerias com o poeta, Tempos Quase Modernos (Qual o Assunto que Mais lhe Interessa?).
Também convidado a se pronunciar, o reitor da Ufba, Paulo Miguez, agradeceu a Capinan pelas muitas canções que embalaram o Brasil. “Obrigado por tantas referências musicais e poéticas, mas agradeço principalmente por saber que este poeta soube enfrentar os desafios do seu tempo”, disse.
Também compuseram a Mesa a professora Edilene Dias Matos, representando a Academia de Letras da Bahia; o chefe de gabinete da Fundação Pedro Calmon, Caruso Costa; o defensor público, João Carlos Gavazza Martins e o professor George Gurgel de Oliveira; conselheiro do Instituto Politécnico da Bahia. Entre outros que prestigiaram o evento, estavam o compositor Gereba, que tocou algumas de suas parcerias com o letrista, a exemplo de Três por Acaso, o cineasta José Araripe Jr. e o diretor de teatro Márcio Meirelles.
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